A Paz do Senhor esteja contigo.

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Disse Jesus: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estarei presente.

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domingo, 12 de junho de 2011

O MISTERIO DO CRUCIFICADO EM GUIDO MARIA CONFORTI

Texto do Padre Domenico Borrotti, superior regional dos Xaverianos, cedido pelo Padre Xaveriano Rafael sobre o mistério do crucificado. Como o autor do texto é de nacionalidade Italiana, há uma natural dificuldade em escrever em outro idioma. Entretanto, me abstive de qualquer alteração/correção, por receio de se perder, eventualmente, o sentido maior da idéia e carisma do autor.



O MISTERIO DO CRUCIFICADO EM GUIDO MARIA CONFORTI

A este crucificado devo a minha vocação” disse Conforti já bispo ao padre Pellegri, e acrescentou: Quando eu morava com as irmãs Maini, ainda menino, todas as manhãs eu parava, indo à escola, diante deste crucifixo. Eu olhava para ele e Ele olhava para mim e me parecia dizer-me muitas coisas.....” (1)



Sabemos que quando bispo, Conforti procurou este crucifixo, que ele contemplava na igrejinha de Nossa Senhora da Paz que estava no seu caminho para a escola. A Igrejinha era agora fechada e o crucifixo tinha sumido. Conseguiu achá-lo no Convento de São Francisco. O levou para o epíscopo, o restaurou com todos os cuidados possíveis, e na oportunidade do Sínodo Diocesano, o colocou sobre o altar da Catedral de Parma, onde permaneceu até que o seu sucessor Dom Evasio Colli o doou aos Xaverianos, que o guardam hoje na capela da Casa Mãe. A Irmã do Conforti, dona Cleope Conforti, contou a Padre Pellegri o seguinte:”Bem, por duas vezes, no tempo que aquele crucifixo estava sendo restaurado, surpreendi meu irmão a olhar imóvel e demoradamente aquele crucifixo. A primeira vez que aconteceu, apesar de eu passar bem perto dele não percebeu a minha presença, a segunda vez o chamei, mas não respondeu. O vi tão estático que eu não tive coragem de aproximar-me mais”.



Ao senhor Adolfo Oliva o próprio Conforti confiou: “È a este crucifixo que devo a minha vocação”. Foi diante dele que se despertou. Inúmeras são as testemunhas que confirmam o papel decisivo deste crucifixo na vida, espiritualidade e carisma do Conforti. Quase todos os contemporâneos que testemunharam no processo informativo a Parma, sobre o Ben Aventurado Conforti, falam de alguma maneira deste crucifixo. Não somente falam da imagem que ele contemplou quando menino, mas também do crucifixo em geral. O Crucifixo foi de fato a sua referencia espiritual mais profunda, e diante de crucifixo tomava as suas decisões mais importantes e às vezes dramáticas. É prova disso a carta da sua renuncia a arquidiocese de Ravenna na qual diz textualmente: depois de ter avaliado cada coisa aos pés do crucifixo..... cheguei à dolorosa determinação de entregar nas mãos do Augusto Pontifex as minhas demissões”. (6)



Não só, mas sempre convidou os seus missionários a fazer a mesma coisa, um exemplo disso o tem quando envia na China uma copia do regulamento do Instituto Xaveriano já em fase adiantada de elaboração, ao qual tinha trabalhado por anos, e escreve: Transmito a todos vocês uma copia do nosso futuro regulamento, para que possais lê-lo com calma e ponderá-lo aos pés do crucifixo, fazendo aquelas observações que vocês consideram adequadas para o bem da nossa congregação.....”(7)  Não foi casualmente que desde o começo colocou entre os xaverianos a tradição de entregar com solenidade um crucifixo a todos os missionários que partiam para as missões e ele mesmo em vida, sempre deu muita importância a esta celebração é exatamente nestas celebrações, exatamente nos discursos aos parentes, que nos fez o presente de uns discursos muito bonitos, sobre o crucifixo. (anexo 1)



UMAS PERGUNTAS INEVITAVEIS.



O que significou o crucifixo para o Conforti? Por que esta referencia continua  constante na sua vida? O que ele entendeu e sentiu diante do crucificado para chegar a dizer: “A este crucificado devo a minha vocação”. E tem mais: por que contemplando o crucificado tirou disso para si e para o seu projeto uma espiritualidade e um carisma decisivamente missionário, aberto e universal, que toma a iniciativa. O que o crucificado lhe revelou? E o revelou de maneira forte tanto da escrever que: “É Deus” que quer que realize este projeto de fundar um seminário com finalidade exclusivamente missionária.” Escreve isso no ano de 1895 na carta ao Prefeito de Propaganda Fique Card. Laerdokoski pedindo a autorização de abrir este seminário, visto que por motivos de força maior e independente de sua vontade não era possível a ele pessoalmente partir pelos territórios de Missão. Nisso é parecido com o Comboni que sentia e dizia que “É Deus” que quer a Missão na África, chegando a exclamar:” A África o morte”. Conforti diz que sentiu isto desde a primeira juventude e nunca este propósito se enfraqueceu nele, ao ponto de fazer deste projeto o sentido mais profundo de sua vida, era a sua aspiração mais viva e a este projeto dizia: ”está ligado o êxito ou o a falência da minha vida”. O ser bispo lhe interessava bem menos, até sentiu como obstáculo ao seu projeto, o ter sido nomeado bispo.




EM BUSCA DE UMA RESPOSTA.     



A contemplação do Crucifixo que: ”Parecia me dissesse muitas coisas” revelou certamente ao Conforti: de um lado o profundo amor de Deus com o ser humano e do outro lado a sua forte vontade de salvar a todos. Para que isso aconteça é preciso chamar o ser humano a conversão. Esta mudança ou conversão torna-nos capazes, nos abre a uma vida nova que será eterna e que é decisiva para acolher o projeto e as propostas de Jesus. Esta conversão ou mudança é essencial para acolher Jesus e a sua proposta. Tanto é verdade isso que as primeiras palavras públicas pronunciadas por Jesus (para o contesto bíblico dizem os estudiosos as primeiras palavras do enviado de Deus dizem o essencial de toda a sua missão) são de fato: ”Convertei-vos e crede no evangelho”.  O evangelho é anunciando para provocar conversão, mudança, vida nova. Esta vida nova, não é proposta, mas exigida por Jesus: ”Isto eu ordeno” (João: 15,17) diz Jesus, e não “proponho” e o diz depois de ter falado do amor ao próximo, até aos inimigos.

O Crucifixo revelou ao Conforti, e por meio dele revela também a nós, uma aposta de Deus, um risco extremo que Deus quis correr, porque o ser humano, atingido em profundidade de uma doença invisível que se chama de pecado, não seja por ele levado a morte, mas se converta e viva! O mesmo Conforti revela estas acentuações nos seus escritos. Diz ele mesmo na dramática carta com a qual renunciou a arquidiocese de Ravenna: ”Não basta à imagem do crucificado nas paredes da vossa casa para poder dizer que o Cristo ai reina. É necessária também a obra vigorosa da fé na vossa vida, para que a transforme.... É necessário que o Espírito Santificador e Transformador, tire as coisas profanas da vossa vida, os ódios, as discórdias e todos os pecados e coloque em vós o perfume da pureza e da piedade...” e acrescenta: “os bons cidadãos são tais porque antes são bons cristãos” (8)


Para explicar melhor:

”Diante do crucificado Conforti percebeu, que: Deus sabia que o ser humano, não è mais conforme o projeto originário, e agora se tornou orgulhoso e dissoluto e que só pára para pensar depois que destrói o seu bem.

Entendeu o Conforti diante do crucifixo que Deus sabia que o ser humano se tornou agressivo, violento e competitivo, e que só sente o vazio depois que esmaga o justo que lhe se opõe falando a verdade. Contemplando o crucificado o Conforti captou que Deus sabia, que o coração do ser humano quando é endurecendo, só pode ser vencido pela sua vitima, especialmente se morre perdoando.

Afinal compreendeu diante do crucificado que foi necessário que Jesus Cristo fosse até a cruz, para nos dar consciência que somos crucificadores e deturpadores, não só da verdade que vem de Deus, mas também de nós mesmos e dos outros.

Muitas vezes o nosso coração è tão endurecido que nem percebemos isso. É evidente que esta consideração não esgota o sentido profundo que a Cruz de Cristo tem, mas explica alguma coisa especialmente em relação ao amor que Deus tem para com o ser humano e também sobre a necessidade que o ser humano tem de mudar de converter-se se quer o seu bem e a sua salvação.  Deus permitiu tudo isso porque este era o único caminho possível para criar as condições de salvação para o ser humano revelando assim a todos nos o coração amoroso de Deus. Deus nos ama não porque nós o amamos, mas porque Ele è amor, desde sempre nos ama e sempre nos amará apesar dos nossos pecados e sempre tentará todo o possível para nos salvar. Da Cruz transparece para o Confoti a forte vontade de Deus de salvar a todos os homens. E’ evidente que isso não esgota o sentido profundo do mistério da Cruz de Cristo, que o Conforti percebeu diante do crucificado, mas revela algo. Nos diz o próprio Conforti: O Crucifixo è o grande livro ao qual se formaram os santos e que resume todo o mistério de Jesus... Santo Afonso bem podia escrever aos pés de um Crucifixo estas palavras: assim se ama!”.   

Para o Conforti, Deus esperava que, olhando a Aquele que traspassaram (e que se deixou traspassar para ser fiel à verdade e ao amor até as últimas consequências) os homens entendessem que estavam errados e que precisavam de conversão para a vida verdadeira que o Cristo testemunhou e pregou a todos e que conduz à salvação. O que Deus não teve coragem de pedir a Abraão pediu a si mesmo, deixando sacrificar o seu próprio filho. Deus não sacrifica o ser humano pecador, mas sacrifica o seu filho para que o ser humano pecador se salve. E’ EVIDENTE QUE A PARTIR DISSO O Conforti não podia tirar da cruz outra coisa que o seu carisma totalmente missionário.

Só este caminho transforma o mundo no sentido positivo. Só respondendo ao mal com as armas do bem, o mal pode ser desarmado, também se isso pode custar a cruz. Outros caminhos multiplicam o mal. Responder a violência com violência multiplica a violência. Só o perdão desarma, custe o que custar.

Diante do crucificado o Conforti entendeu e sentiu a forte vontade de Deus de salvar a todos os povos e nações: “Receberei força do alto e sereis minhas testemunhas até os últimos confins da terra”.  Jesus Cristo morto na cruz fora da cidade como os escravos e os leprosos, è de todos, quer salvar a todos e todo tem o direito de conhece-lo. E’ a partir disso que se explica o continuo repetir do Conforti aos seus missionários: “O amor de Cristo nos impele.....” (2cor 5,14) frase de São Paulo que os xaverianos reconhecem como portadora da alma mais profunda do Conforti e que ele mesmo a indicou aos seus missionários como: “ palavra de ordem, e síntese das aspirações mais profundas”. ( 9).



                                   ANEXO I



O Crucifixo é o grande livro sobre o qual formaram - se os Santos e sobre o qual nós também devemos formar-nos. Todos os ensinamentos contidos no Santo Evangelho encontram no Crucifixo a sua síntese. Ele nos fala com uma eloquência que não tem igual, a eloquência do sangue. Inculca-nos a humildade, a pureza, a mansidão, o desapego de todas as coisas da terra, a uniformidade à divina vontade e, sobretudo, o amor para com Deus e para com os irmãos. Por sua crucifixão Jesus reconciliou, consigo a humanidade com Deus e uniu entre si num único vínculo de amor todos os dispersos filhos do primeiro pai. Santo Afonso bem podia escrever aos pés de um Crucifixo estas palavras: assim se ama! No mundo sobrenatural ele é o ponto mais elevado que patenteia ao olhar imensos horizontes. É o livro mais sublime sobre o qual devemos meditar continuamente para encontrar a razão suficiente para todas as questões da ordem moral. Nenhum outro livro pode falar com maior eficácia à nossa mente e ao nosso coração; nenhum outro livro pode fazer-nos conceber propósitos mais generosos e despertar em nós todas as energias necessárias para concretizá-los mesmo à custa das maiores renúncias e dos mais duros sacrifícios.

   
Por isso ao missionário, que parte para terras longínquas a fim de anunciar a Boa Nova, outra arma não é oferecida a não ser o Crucifixo, porque esta possui a força de Deus e por ela haverá de triunfar sobre tudo e sobre todos após ter triunfado sobre si mesmo.

         Guido Maria Conforti

       

  A Palavra do Pai, janeiro de 1925 (Ed. EMI, pág. 39)


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